Seis perguntas para discernir sua vocação

A palavra vocação é tão rica que não fica restrita às profissões e carreiras, mas remete-se à totalidade da vida, a uma larga gama de relacionamentos e responsabilidades. Em seu livro Consider Your Calling (Considere Seu Chamado, em tradução livre), Gordon T. Smith, presidente da Ambrose University, em Calgary, Canadá, apresenta seis perguntas que podem ajudar no discernimento da vocação, a saber, aquilo a que somos chamados a viver como seres humanos. O processo de discernimento raríssimas vezes é instantâneo. Requer intencionalidade, foco, atenção e energia emocional.
O que desperta e captura sua imaginação?
Considerem-se duas grandes categorias de trabalho: o criativo e o redentor. O trabalho criativo é aquele que traz coisas novas à vida. O trabalho redentor por sua vez é aquele que busca trazer algum tipo de ordem ao caos da vida. Com essas duas (reconhecidamente enormes) categorias em mente, é possível desenvolver uma imaginação vocacional. A lógica é simples: vocação só encontra sentido em um mundo que tem sua própria ordem, sua própria narrativa. As histórias pessoais fazem, todas, parte de uma história maior. O discernimento vocacional, portanto, traduz-se em parte pela compreensão de como cada narrativa pessoal individual se encaixa nessa grande história que já está em curso. O que está acontecendo nessa grande história, que está sendo feito em prol do bem comum, que desperta e captura a imaginação?
Quem é você?
Ao pensar no que desperta e cativa a atenção, é possível ser impulsionado em muitas direções diferentes. Por isso, a segunda pergunta é importante. Autoconhecimento é elemento crítico do processo de discernimento vocacional. Vocação é sempre consistente com a identidade. Discernir significa, portanto, olhar para si mesmo de forma realista, ao ponto de não se desejar ser ninguém além de si mesmo, com a própria variedade de forças, habilidades, desejos e oportunidades. Assumir a responsabilidade por cuidar da vida que se recebeu e se manter fiel às próprias características. A vocação não é arbitrária e não existem pessoas genéricas. O que no mundo te importa mais do que qualquer outra coisa? E quais são os recursos à disposição para se envolver com essa questão?
Qual é o seu momento de vida?
Discernimento vocacional tem diferentes expressões, dependendo do estágio na jornada da vida. Há quem divida a vida em três grandes momentos: a passagem da adolescência para o início da vida adulta, a passagem para o meio da vida adulta e a passagem para os anos de maturidade. Na primeira passagem, a grande pergunta é “você assumirá a responsabilidade pela sua vida?”. Já para os que se encontram na segunda fase da jornada, a questão de foco se torna crítica e a grande pergunta é “você está disposto(a) a dedicar tempo, energia e dinheiro àquilo que mais importa pra você?”. Para quem já conta com mais experiência na caminhada, a pergunta crucial é “você está disposto(a) a redirecionar sua energia e abandonar as estruturas de poder a fim de encorajar e preparar as novas gerações?”
Quais são as circunstâncias da sua vida?
Vocação é sempre para aqui e agora. Abraçar o trabalho a ser feito em resposta às circunstâncias, desafios e oportunidades que cercam nesse exato momento. Duas pessoas sob as mesmas condições podem ter vocações completamente diferentes. É preciso ler o contexto à volta. Uma forma de fazê-lo é olhar para as oportunidades e limitações que temos à mão. Em ambos os casos é preciso ser realista: essas são oportunidades ou limitações reais? Novamente, evitar comparações é imperativo. Embora estejamos inseridos num cenário desfavorável, mesmo ali a vocação deve florescer. Não há espaço para arrependimentos do passado. Ninguém está à frente do seu tempo, vivendo na época errada, e ninguém precisa perder o bonde da vocação.
Qual a sua cruz?
A imagem da cruz é forte na tradição cristã. Dentre outras coisas, a cruz representa a própria vocação de Jesus, vida – e morte – em favor de outros. A cruz no contexto vocacional pode ser intrínseca ou extrínseca. Seja a corrupção intrínseca a um sistema corporativo ou as dificuldades extrínsecas impostas sobre o trabalhador moderno pelas grandes cidades. Todo caminho em prol do bem comum apresentará seus percalços. A cruz, no entanto, é algo particular, pessoal, caro e guardado aos círculos mais íntimos. Não é algo a ser divulgado aos quatro ventos. De alguma forma, é capaz de manter os humanos humildes e conectados à sua realidade limitada.
Do que você tem medo?
Pode ser a instabilidade financeira, perda da reputação, rejeição da família, mudança de estilo de vida. O medo drena a competência e a capacidade de discernimento. É preciso coragem para dar nome aos bois e enfrentá-los com a certeza de que não há de fato o que temer. Vocação é algo sobre o qual é preciso ser responsável, é pessoal e é intransferível. Amigos são essenciais para essa última resposta. Amigos capazes de perguntar, olhando nos olhos, do que você tem medo?